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Flávia Costa

(Des)Desenho

Barcelos (Pt), 2013

serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 003, 2013
série (Des)Desenho 001, Carvão vegetal, lapís pastel branco e frottage s/papel jornal, 150 x 100 cm, Flávia Costa, 2013.

Expressões como “lugar vazio”, “lugar de simulacro”, “lugar in between” ou até mesmo “sem lugar” tornaram-se comuns para descreverem territórios que padecem de uma significação específica.

Quando, em 1992, Marc Augé apresentou o conceito “não-lugar”, defendia-o como produto da contemporaneidade, opondo-o à noção de lugar antropológico definido como relacional, histórico e com uma identidade individual. À semelhança os “lugares não marcados” são o reflexo de um tempo/mundo provisório e efémero comprometido com a transitoriedade e a solidão, que aparecem pelas transformações que acontecem na modernidade. No entanto não se pode pensar não marcado lugar sem pensar na ideia de lugar, sabendo que ela varia de acordo com o espaço e com o ponto de vista de cada um. E que o mesmo acontece com o “não-lugar”, onde temos, por um lado o espaço construído para diversos fins (transporte, trânsito) e, por outro lado, a relação que os indivíduos estabelecem com esses espaços.

A questão refere-se, portanto ao espaço físico e as relações que os atores sociais aí estabelecem, daí que mesmo os lugares vazios que convocam um diálogo que remete para um conjunto de significados heterogéneos são também suscetíveis de memória poética.

Desprovido então de uma definição concreta, o espaço tornou-se num conceito partilhado e objeto de inúmeros questionamentos, muitos deles motivados pela relação com o desenho. E é nesta relação que a prática realizada averiguou como estes ambientes podem ser percebidos e comunicados numa singularidade que não é formal, mas experimental e performativa.


serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 002, 2013
série (Des)Desenho 002, Marcadores s/papel fabriano, 150 x 100 cm, Flávia Costa, 2013.
serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 001, 2013
série (Des)Desenho 003, Marcador, grafite em pó e acrilico /papel fabriano, 150 x 100 cm, Flávia Costa, 2013.

Ao inscrever estas preocupações em estudos de estruturas rodoviárias da cidade de Barcelos, pretendia perceber como o desenho incorpora as características que definem a condição não marcada destes lugares. E como estes ambientes podem ser percebidos e comunicados numa singularidade que não é formal, mas experimental e performativa. Com base na experiência empírica de espaços rodoviários na área geográfica de Barcelos – a Central de Camionagem e a Praça de Portagem da A11 – utilizou-se o desenho como instrumento de abordagem fenomenológica do lugar.


serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 005, 2013
série (Des)Desenho 004, Carvão vegetal e frottage s/papel jornal, 300 x 150 cm, Flávia Costa, 2013.

Da mobilidade do corpo que percebe o espaço à medida que nele se desloca, à mobilidade do corpo enquanto desenha, joga-se a singularidade da relação entre conteúdo e expressão do lugar. Esta relação desloca frequentemente a ação que ocorre num plano horizontal – a estrada, o passeio, o chão – para a manipulação transparente da informação, como quem projeta imagem sobre imagem, num eixo vertical que nos permite aceder, no mesmo espaço e ao mesmo tempo, à informação percebida.


serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 006, 2013
série (Des)Desenho 005, Marcador s/papel jornal, 300 x 150 cm, Flávia Costa, 2013.

A reconstituição da experiência do espaço no desenho assumiu a forma de um palimpsesto: sucessivas camadas de informação sobrepostas, correspondentes a diferentes observações e vistas sincopadas de pontos geográficos diversos, que não podem ser entendidos sem que a mobilidade do corpo se projete como elemento imaginário dando sentido às imagens sobrepostas.


serie (Des)desenhos space movement drawing by flavia costa artist contemporary 004, 2013
série (Des)Desenho 006, Carvão, sanguínea e pastel branco s/papel jornal, 150 x 100 cm, Flávia Costa, 2013.

Os (Des)desenhos são um conjunto de desenhos numa escala cénica que nascem da relação entre espaço, movimento e desenho. As imagens destes lugares não marcados são representações que emergem do fluxo dos movimentos, das representações somáticas e das suas experiências, onde o visível e o imaginado se encontram na estrutura do gesto.