(Des)Desenho
Barcelos (Pt), 2013

Expressões como “lugar vazio”, “lugar de simulacro”, “lugar in between” ou até mesmo “sem lugar” tornaram-se comuns para descreverem territórios que padecem de uma significação específica.
Expressions such as “empty place”, “simulate place”, “place in between” or even “no place” have become common to describe territories that suffer from a specific meaning.
Quando, em 1992, Marc Augé apresentou o conceito “não-lugar”, defendia-o como produto da contemporaneidade, opondo-o à noção de lugar antropológico definido como relacional, histórico e com uma identidade individual. À semelhança os “lugares não marcados” são o reflexo de um tempo/mundo provisório e efémero comprometido com a transitoriedade e a solidão, que aparecem pelas transformações que acontecem na modernidade. No entanto não se pode pensar não marcado lugar sem pensar na ideia de lugar, sabendo que ela varia de acordo com o espaço e com o ponto de vista de cada um. E que o mesmo acontece com o “não-lugar”, onde temos, por um lado o espaço construído para diversos fins (transporte, trânsito) e, por outro lado, a relação que os indivíduos estabelecem com esses espaços.
A questão refere-se, portanto ao espaço físico e as relações que os atores sociais aí estabelecem, daí que mesmo os lugares vazios que convocam um diálogo que remete para um conjunto de significados heterogéneos são também suscetíveis de memória poética.
Desprovido então de uma definição concreta, o espaço tornou-se num conceito partilhado e objeto de inúmeros questionamentos, muitos deles motivados pela relação com o desenho. E é nesta relação que a prática realizada averiguou como estes ambientes podem ser percebidos e comunicados numa singularidade que não é formal, mas experimental e performativa.
When, in 1992, Marc Augé presented the concept “non-place”, he defended it as a product of contemporaneity, opposing it to the notion of anthropological place defined as relational, historical and with an individual identity. Similarly, “unmarked places” are a reflection of a provisional and ephemeral time/world committed to transience and solitude, which appear through the transformations that take place in modernity. However, one cannot think of an unmarked place without thinking about the idea of place, knowing that it varies according to the space and each person’s point of view. And the same happens with the “non-place”, where we have, on the one hand, the space built for different purposes (transport, traffic) and, on the other hand, the relationship that individuals establish with these spaces.
The question therefore refers to physical space and the relationships that social actors establish there, hence even empty places that call for a dialogue that refers to a set of heterogeneous meanings are also susceptible to poetic memory.
Lacking a concrete definition, space became a shared concept and the object of countless questions, many of them motivated by its relationship with design. And it is in this relationship that the practice carried out investigated how these environments can be perceived and communicated in a singularity that is not formal, but experimental and performative.


Ao inscrever estas preocupações em estudos de estruturas rodoviárias da cidade de Barcelos, pretendia perceber como o desenho incorpora as características que definem a condição não marcada destes lugares. E como estes ambientes podem ser percebidos e comunicados numa singularidade que não é formal, mas experimental e performativa. Com base na experiência empírica de espaços rodoviários na área geográfica de Barcelos – a Central de Camionagem e a Praça de Portagem da A11 – utilizou-se o desenho como instrumento de abordagem fenomenológica do lugar.
By including these concerns in studies of road structures in the city of Barcelos, I intended to understand how the design incorporates the characteristics that define the unmarked condition of these places. And how these environments can be perceived and communicated in a singularity that is not formal, but experimental and performative. Based on the empirical experience of road spaces in the geographic area of Barcelos – the Trucking Center and the A11 Toll Plaza – drawing was used as an instrument for a phenomenological approach to the place.

Da mobilidade do corpo que percebe o espaço à medida que nele se desloca, à mobilidade do corpo enquanto desenha, joga-se a singularidade da relação entre conteúdo e expressão do lugar. Esta relação desloca frequentemente a ação que ocorre num plano horizontal – a estrada, o passeio, o chão – para a manipulação transparente da informação, como quem projeta imagem sobre imagem, num eixo vertical que nos permite aceder, no mesmo espaço e ao mesmo tempo, à informação percebida.
From the mobility of the body that perceives the space as it moves in it, to the mobility of the body as it draws, the singularity of the relationship between content and expression of the place is played out. This relationship often shifts the action that occurs on a horizontal plane – the road, the sidewalk, the ground – to the transparent manipulation of information, like someone projecting image upon image, on a vertical axis that allows us access, in the same space and at the same time. , to the perceived information.

A reconstituição da experiência do espaço no desenho assumiu a forma de um palimpsesto: sucessivas camadas de informação sobrepostas, correspondentes a diferentes observações e vistas sincopadas de pontos geográficos diversos, que não podem ser entendidos sem que a mobilidade do corpo se projete como elemento imaginário dando sentido às imagens sobrepostas.
The reconstruction of the experience of space in the drawing took the form of a palimpsest: successive layers of overlapping information, corresponding to different observations and syncopated views of different geographic points, which cannot be understood without the mobility of the body being projected as an imaginary element giving meaning to the superimposed images.

Os (Des)desenhos são um conjunto de desenhos numa escala cénica que nascem da relação entre espaço, movimento e desenho. As imagens destes lugares não marcados são representações que emergem do fluxo dos movimentos, das representações somáticas e das suas experiências, onde o visível e o imaginado se encontram na estrutura do gesto.
The (Un)Drawing are a set of drawings on a scenic scale that arise from the relationship between space, movement and drawing. The images of these unmarked places are representations that emerge from the flow of movements, somatic representations and their experiences, where the visible and the imagined meet in the structure of the gesture.