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Flávia Costa

Gipsy Drawings

Barcelos (Pt), 2018-2023.

Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 007
Gipsy Drawing 005, Flávia Costa. Grafite e aguada s/ papel poliéster, 40 x 30 cm. (Coleção Privada)

Quando Kevin Lynch (1960) apresentou a análise em torno da imagem da cidade defendia que esta não se poderia resumir a um produto final, mas antes a uma sucessão contínua de fases:

A cada instante, há mais do que os olhos podem ver, mais do que o ouvido pode ouvir, um cenário ou uma vista à espera para ser explorada. (Lynch, 1960, p. 1).

Explicava ainda que as pessoas estruturam a sua imagem da cidade pouco a pouco a partir de cinco elementos identificáveis, são eles: os bairros, os cruzamentos, as vias (ruas, linhas de trânsito, canais), os limites (fronteiras entre duas áreas de espécies diferentes) e os elementos marcantes. Estes últimos são pontos de referência exteriores ao observador (torres, edifícios, aglomerados) que funcionam como indicadores espaciais.

A sua principal característica é a singularidade no contexto onde estão inseridos, podendo ser alcançada de duas maneiras: uma ao serem vistos a partir de muitos lugares e/ou outra por estabelecerem um contraste com as formas do cenário de fundo.


Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 001
Gipsy Drawing 001, Flávia Costa. Grafite e lapís calcográfico s/ papel poliéster, 40 x 30 cm. (Coleção privada)
Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 004
Gipsy Drawing 002, Flávia Costa. Grafite s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.

É na entrada Este da cidade de Barcelos se avista uma desordenada mancha de chapas de zinco, lonas coloridas, madeiras, blocos… Esta é a outra cidade – a do senhor Monteiro, o patriarca líder da comunidade de etnia cigana em Barcelos.

Situado numa zona limítrofe o aldeamento cigano é um exemplo de uma prática urbana, que de um modo ilegítima vai-se continuamente sobrepondo ao urbanismo planeado, numa tentativa de reinvindicar direito ao território e à cidade.

Começou com uma construção muito humilde e pequenina num terreno baldio e foi crescendo numa autogestão urbanística, que responde apenas a uma gestão patriarcal dentro da própria comunidade. Hoje é já um aldeamento composto por um colorido e heterogéneo conjunto de barracas:

Aqui não há arquitetos nem engenheiros, há construtores. Vão-se fazendo as barracas conforme se pode. Conforme as coisas que nos vão dando ou que encontramos. E vamos juntando tudo.

( Sr. Monteiro, Líder da comunidade cigana de Barcelos)


Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 005
Gipsy Drawing 003, Flávia Costa. Grafite s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.
Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 006
Gipsy Drawing 004, Flávia Costa. Grafite e colagem s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.

E por isso estas construções são temporárias na medida que vão ganhando forma aos poucos, o que lhe atribui uma visualidade intermitente. Num processo contínuo as barracas alteram-se, amplia-se, reconstruem-se, reinventam-se ao sabor dos diferentes materiais. E por isso, quando se fala na construção destas casas assemblages fala-se do tempo, do espaço e de uma rejeição ao que é estático.


Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 002
Gipsy Drawing 006. Flávia Costa. Grafite s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.

Na arquitetura, esta capacidade dos espaços transformarem-se, dilatarem-se e contraírem-se conforme os fluxos ao seu redor surge na condição de liquidez. Uma arquitetura líquida como Ignasio de Solà-Morales (1998) descreve, é uma arquitetura mais do tempo do que do espaço, inscrita como um processo imerso numa temporalidade instantânea que rejeita a forma estática e analítica do espaço. As noções de liquidez e fluidez (Bauman, 2000) surgem como metáfora para falar de um ambiente, que conserva em si a capacidade de transformação contínua.


Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 003
Gipsy Drawing 007, Flávia Costa. Grafite e colagem s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.

Foi essa natureza autopoiética de reinvenção constante das barracas que fui vendo e assistindo nas visitas guiadas pelo senhor Monteiro à sua “cidade” em constante mutação, que me fez desenvolver a série Gipsy Drawings.

Desenhos onde especulo graficamente sobre a impermanência e natureza transformativa de um espaço físico.


Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 08
Gipsy Drawing 008, Flávia Costa. Grafite s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.
Gipsy Drawings Flávia Costa Drawings related with the gipsy village and community in Barcelos 009
Gipsy Drawing 009, Flávia Costa. Grafite s/ papel poliéster, 40 x 30 cm.

Ficha Técinca

Título: Gipsy drawings

Técnica: Grafite e colagem s/ papel poliéster 

Dimensões: 40 x 30 cm 

Categoria: Desenho

Exposição online: Drawing in relation DRN2023 (Expoisção coletiva e online) Flávia Costa, Gipsy Drawing 005. Loughborough University https://www.lboro.ac.uk/schools/design-creative-arts/the-order-of-the-drawing/8-flavia-costa/


Referências bibliográficas

Lynch, K. (1960). The image of the city. The MIT Press.

Solà-Morales, I. (1998). Liquid Architecture. In C. Davidson (Ed.), Anyhow (pp. 36-43). MIT Press.

Bauman, Z. (2000). Liquid Modernity. Polity Press.